domingo, 30 de dezembro de 2012

Noite profunda!

   E lá estávamos mais uma vez procurando nos encontrar em algum lugar ou mesmo em algum lugar algo encontrar.
   Depois de um dia bem cansativo de caminhada por pedras pontiagudas e arbustos espinhentos montamos acampamento em um ajuntamento de três árvores de uns 6 metros de altura com troncos grossos e copas recheadas de folhas verdes escuras. Não fizemos fogueira, tanto para não despertar atenção de algo fora do nosso conhecimento quanto pelo motivo de estar fazendo muito calor.
   Comemos umas coxas de perdizes que tínhamos cozinhado na noite anterior quando o ambiente nos proporcionou um local protegido e aconchegante. Dormimos satisfeitos, mas acordamos preocupados. Achamos que tínhamos apenas cochilado, mas nossos sonhos tinham sido muitos e profundos, havíamos dormido tarde da noite e quando despertamos já era para estar vindo a alvorada.
   Meu amigo, Lankar, estava sério, preocupado, eu demonstrei o mesmo, sabíamos que mais coisas estranhas teríamos que enfrentar. Pô-mo-nos de pé e subimos as árvores para esperar pela vinda do sol. Ficamos ali em cima como pássaros dormindo em suas casas, pois ficamos muito tempo, no entanto acordados, mas nada de sol, parecia que havia se perdido, tomado outra rota. De repente meu amigo cochichou-me da outra árvore que não se atrevia a descer ao chão enquanto a escuridão continuasse, concordei em fazer o mesmo, a escuridão do dia é mais perigosa que a luz da noite.
   O silêncio era tão predominante quanto a escuridão. Era como se estivéssemos mortos, ponderei esta louca ideia por um momento, mas era capaz de cheirar o mato, o meu suor, conversar com meu amigo, sentir dor, dor e principalmente medo, este era o mais forte, o que viria a seguir? Um clarão repentino ou algo inimaginável? Parei de pensar, não fazia sentido, tinha que descer, o lugar parecia enfeitiçado...
   Não foi muito fácil descer, a escuridão me deixou relutante. A todo o momento meu amigo ficava dizendo para não cometer tamanha estupidez. Mas quando coloquei os pés no chão e me afastei das árvores me senti leve e corajoso. Disse para Lankar esperar por mim na árvore enquanto eu verificasse o que estava acontecendo, embora eu não tinha a mínima ideia do que procurar comecei a me distanciar das árvores a procura de alguma coisa que me chamasse a atenção naquela escuridão toda.
   Não precisei andar muito para que enxergasse uma pequena luz brilhando entre umas pedras à minha frente. Andei em direção à tal luz quando me deparei com uma pequena reentrância entre rochas de 2 metros de altura, rochas negras e lisas. A luz ali já era forte e dois passos através dessas rochas foi o suficiente para que eu me deparasse com o dia como costumávamos presenciar, havia um campo com vegetação rala e verde, poucas pedras, a paisagem era plana e havia também poucas árvores, como se fosse um deserto verde. Estranhamente percebi que eu estava no limiar entre a noite e o dia, mas quando voltei para trás eis que já não havia mais escuridão alguma, desesperado corri para o meu amigo, mas não o encontrei e o que é pior, onde deveriam estar as três árvores só pude encontrar os nossos pertences em uma clareira entre a baixa vegetação. De meu amigo, Lankar, não havia sinal algum, parece ter sido levado com as árvores quando a escuridão se foi, para onde não me atrevo a dizer, mas acredito que ele ainda esteja lá, em cima de uma das árvores, esperando por mim... na escuridão!